sexta-feira, 28 de outubro de 2011

RESENHA DO LIVRO - PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS A PRÁTICA EDUCATIVA


Desde o ínicio do livro de Paulo Freire, o autor nos mostra sobre o que seu livro abordará em seu conteúdo, assim diz o autor a respeito da temática de seu livro:

“A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativo-progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos é a temática central em torno de que gira este texto. Temática a que se incorpora a análise de saberes fundamentais àquela prática e aos quais espero que o leitor crítico acrescente alguns que me tenham escapado ou cuja importância não tenha percebido.” (FREIRE, 1996)

O foco em formação docente, com uma reflexão sobre a prática educativa buscando a autonomia de seus alunos, esta é a temática apresentada durante todo o decorrer do livro, acrescentando e relembrando assuntos já abordados pelo autor, durante os três capítulos do livro.
Segundo o autor existem alguns saberes que são indispensáveis a prática educativa, saberes esses que sem eles não é possível ao educador trabalhar de forma coerente em seus discursos.

“É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o principio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se com sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” (FREIRE, 1996)

Como podemos observar no trecho do livro apresentado, um destes saberes é que desde o ínicio de sua formação, entendamos que somos parte de formação e construção do conhecimento, que não somos meros espectadores do processo e também não somos como um banco de dados onde tudo será depositado, sendo posteriormente acessado e consultado conforme a necessidade apresentada. Somos parte primordial da construção do conhecimento e para isso necessitamos de uma formação significativa, onde o conhecimento seja construido de acordo com necessidades apresentadas, sendo constantemente alterado, complementado e adaptado, de acordo com os alunos e as situações que são apresentadas durante a construção do mesmo.
A construção deste conhecimento, desta experiência de forma significativa, não pode partir de outro modo a não ser pela curiosidade, a qual muitas vezes ingênua, cabendo a nós o insentivo a transformação da mesma em epistemológica.

“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.” (FREIRE, 1996)

O ensino e a pesquisa, a indagação, a constatação, a intervenção e em seguida a educação, processo pelo qual passamos dentro da aprendizagem e do ensino, este deve partir sempre a partir da curiosidade, sentimento o qual precisa ser instigado pelo educador, causando um incomodo aos educandos para que os mesmos, ao se sentirem neste ponto possam buscar resolvê-lo, construindo o conhecimento de forma que não seja em vão o trabalho, mas sim partindo de sí a vontade em construí-lo.
Outra maneira para que o ensino seja significativo aos educandos, é que possamos inserir os conteúdos a realidade dos mesmos, como podemos ver na afirmação do autor a seguir.

“Porque não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Porque não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Porque não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes elas áreas pobres da cidade? A ética de classe embutida neste descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferí-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos.” (FREIRE, 1996)

Sendo assim, posterior a estas indagações feitas pelo autor, somente nos resta a reflexão sobre elas, nos indagando sobre o quão melhor seria o ensino se os conteúdos fossem associados as práticas diárias dos educandos e da comunidade onde se encontram inseridos, onde os mesmos pudessem visualizar os conteúdos trabalhados em sala dentro do seu cotidiano, ou dentro do cotidiano de seus familiares.
Outro aspecto que pode nos ajudar sobre esta questão sobre a prática docente de forma significativa, nos remete ao pensamento crítico, a formação de cidadãos, pessoas que questionem e intervenham, constantemente apresentado em documentos relacionados a educação, o autor nos apresenta a seguinte afirmação:

“O pensar certo sabe, por exemplo, que não é partir dele como um dado dado, que se conforma a prática docente crítica, mas também que sem ele não se funda aquela. A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer.” (FREIRE, 1996)

Logo, não cabe somente o “filosofar sobre”, ou somente o “fazer” dentro do processo de aprendizagem, precisamos conciliar nosso discurso e nossa prática, pensar sobre o fazer, repensar e refazer, criar um processo natural em relacionar ambos, não dicotomizando os saberes.

“Não posso apenas falar bonito sobre as razões ontológicas, epistemológicas e políticas da Teoria. O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo concreto, prático, da teoria. Sua encarnação. Ao falar da construção do conhecimento, criticando a sua extensão, já devo estar envolvido nela, e nela, a construção, estar envolvendo os alunos.” (FREIRE, 1996)

Enquanto educador, instigador da busca pelo conhecimento, precisamos despertar a vontade ao aluno em participar deste conhecimento, não sendo somente um “detentor” do mesmo, mas como um participante, atuante e muitas vezes representante deste conhecimento, não sendo somente um novo conhecimento, mas utilizando-se dele e vivenciando-o em suas práticas.
Ainda no aspecto sobre o viver e participar do conhecimento adquirido, como sendo um objeto de transformação constante mediante aquilo que é incorporado, diante da afirmação de que o conhecimento adquirido transforma o que somos, vemos a seguinte colocação do autor:

“A vida no suporte não implica a linguagem nem a postura ereta que permitiu a liberação das mãos. Mãos que, em grande medida, nos fizeram. Quanto maior se foi tornando a solidariedade entre mentes e mãos, tanto mais o suporte foi virando mundo e a vida, existência. O suporte veio fazendo-se mundo e a vida, existência, na proporção que o corpo humano vira corpo consciente, captador, apreendedor, transformador, criador de beleza e não “espaço” vazio a ser enchido por conteúdos.” (FREIRE, 1996)

Podemos afirmar assim que a nossa capacidade de participar e intervir no mundo está sempre relacionado ao nosso conhecimento, seja este adquirido de forma convencional - no ambiente escolar - ou informal - em casa, internet, ou qualquer outra forma de aquisição de conhecimentos - mas sempre relacionado a este conhecimento e, também a nossa capacidade de relacioná-los aos diversos acontecimentos de nossa vida.
Um aspecto importante remetente ao professor é quando nos deparamos sobre a autoridade do mesmo, muitas vezes confundidas com autoritarismo - imposição de regras, limitador da liberdade, ditatorial - porém não tendo o mesmo significado, o autor apresenta esta realidade de forma esclarecedora.

“Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade docente democrática deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a segurança que se expressa na firmeza com quem atua, com que decide, com que respeita as liberdades, com que discuti suas próprias posições, com que aceita rever-se.” (FREIRE, 1996)

Como podemos ver a autoridade está muito mais relacionada à prática educativa, a vivência e domínio do conhecimento do que com a imposição de regras e sistemas de controle comportamental do professor em relação aos alunos. O professor quando obtém a postura da autoridade pelo ensino, pela curiosidade e pelo viver aquilo que discursa, depara-se com o respeito e vontade dos educandos em compartilhar com ele de seus conhecimentos e desejos, como podemos ver nas palavras de Freire abaixo:

“Não posso ser professor sem me por diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser o que realmente estou sendo.” (FREIRE, 1996)

A ideia é reforçada juntamente com o aspecto da aprendizagem significativa, com a vivência, com tudo o que já foi dito a respeito da aprendizagem para a vida, para a aplicação e incorporação do conhecimento, como objeto para intervir no mundo, logo a prática do professor é o espelho ao educando, onde tudo o que for dito poderá ou não ser visualizado pelos mesmos, de forma positiva ou não. Remetendo assim a importância do discurso coeso entre o falar e o praticar de quem está a frente.
O compromisso firmado dentro da escolha em se tornar um educando é muito maior do que a transmissão do conhecimento, remetendo-nos a um lado que transcende o conceitual, trazendo-nos para o afetivo e social do ato de lecionar.

“Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e "cinzento" me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade” (FREIRE, 1996)

Mediar este aprendizado não é uma tarefa de extremos, não cabe sermos somente técnicos, nem tão somente afetivos, é uma tarefa onde precisamos mediar um conhecimento de forma a considerar o aspecto sócio-afetivo e cognitivo de cada aluno, trabalhando de forma significativa para a construção do caráter  e conhecimento de mundo, onde os mesmo o levarão para a vida, formando e transformando pensamentos e atos de acordo com o que vivenciaram e incorporaram durante todo o seu trajeto acadêmico, ou em seu cotidiano fora da escola.

Referência Bibliográfica
FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA. São Paulo, Paz e Terra, 1996.

AUTOR: Proença, Lucas M., 10/2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Contextualizando-nos sobre NIETZSCHE...

          Sem palavras, alguns pensadores vem me deixando fascinado com seus estudos, como o tempo é curto, devido a diversos fatores, em alguns momentos cabe o deleito de ouvir o que algumas pessoas tem a dizer sobre esses pensadores e, neste caso fica o vídeo da Viviane Mosé tratando sobre alguns aspectos e pensamentos do Nietzsche, espero que assistam e pensem sobre...

Friedrich Wilhelm Nietzsche. Seus avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor.  Entretanto, Nietzsche rejeita a "fé" (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, 1820) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 24 anos professor de Filologia na universidade de Basileia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com o pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles.




sábado, 8 de outubro de 2011

ÉsTudo Errado!?



Estudo Errado
Composição: Gabriel, O Pensador

Eu tô aqui Pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?
Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater
Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever
A professora já tá de marcação porque sempre me pega
Disfarçando, espiando, colando toda prova dos colegas
E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo
E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo
Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude
Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"
Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi
Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
Ou quem sabe aumentar minha mesada
Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
Não. De mulher pelada
A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada
E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)
A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)
Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação
- Ué não te ensinaram?
- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..
Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio
(Vai pro colégio!!)
Então eu fui relendo tudo até a prova começar
Voltei louco pra contar:
Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino
Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato
Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo
Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente
E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
Não. A aula
Matei a aula porque num dava
Eu não agüentava mais
E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
(Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Íííh... Sujô (Hein?)
O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar
E me disseram que a escola era meu segundo lar
E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais
Com matérias das quais eles não lembram mais nada
E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada
Refrão
Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração, e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim vocês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...
Juquinha você tá falando demais assim eu vou ter que lhe deixar sem recreio!
Mas é só a verdade professora!
Eu sei, mas colabora se não eu perco o meu emprego.

Não precisa de nenhum comentário!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cadernos Escolares: Aliado de quem?



Os cadernos tem sua principal utilização no universo escolar, sendo uma ferramenta didática para organização de ações e relações no contexto de ensino. Pois por mais que os vejamos com outras finalidades em nosso cotidiano, normalmente somos inseridos neste universo quando começamos nossa escolarização.

“Para se utilizar os cadernos é preciso saber que há margens, nas quais nada deve ser escrito, que o preenchimento das folhas deve obedecer às sequências temporal e de realização das tarefas. Também devem ser aprendidas convenções de comunicação utilizadas por professores para indicar a avaliação das atividades realizadas. Assim sendo, a iniciação no uso dos cadernos prescinde a aprendizagem de um conjunto de regras, convenções e procedimentos.” (SANTOS, 2005, p.292)

À medida que utilizamos esta ferramenta, assim como qualquer outra, notamos que a mesma apresenta uma especificidade em seu manuseio e preenchimento, especificidade essa que precisa ser atendida para a melhor compreensão e visualização daquilo que está sendo registrado, para que fique clara sua leitura e interpretação posteriormente.

“Quem inventou a escrita inventou ao mesmo tempo as regras da alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está escrito, entender como o sistema de escrita funciona e saber como usá-lo apropriadamente. A alfabetização é, pois, tão antiga quanto os sistemas de escrita. De certo modo, é a atividade escolar mais antiga da humanidade.” (CAGLIARI, 1998, p.12)

Assim como a especificidade da utilização do caderno, a escrita também apresenta suas regras e organizações para que tornem-se legíveis, assim como a conhecemos, independete do idioma em que está escrito, ou da forma como aparece, sabemos por meio dessa formalidade da representação dos códigos que existe uma informação representada pela escrita que está a ser passada a nós. Partindo deste princípio vemos em Ferreiro a seguinte colocação:

“Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriarse da escrita.” (FERREIRO, 1999, p.23)

Devido a essa singularidade dos alunos ao ingressarem na escola, precisamos ter consciência de que alguns alunos apresentarão maiores dificuldades, devido o pouco contato com a linguagem escrita, enquanto outros terão menores ou nenhuma dificuldade, muitas vezes estando praticamente alfabetizados ao adentrar no universo escolar. O que precisa ser observado e trabalhado pelo professor em relação a estes aspectos apresentados, é que por muitas vezes os alunos remetem-se tanto as normas do caderno quanto da escrita, que suas produções de textos ou suas contruções das hipóteses de escrita, tornam-se fracas, aparentando um baixo desempenho do aluno e portanto cabe ao professor criar ou utilizar-se de meios para facilitar a utilização desta ferramenta pedagógica, o caderno, para que o aluno atente-se somente ao que é realmente importante durante o processo de alfabetização.

“Os cadernos escolares são um dos recursos didáticos mais frequentemente utilizados nas escolas. De modo geral, nos anos iniciais de escolarização, servem especialmente a funções planejadas pelos docentes e nas séries mais avançadas passam a ter seu uso pelos alunos mais livre.” (SANTOS, 2005, p.293)

Como podemos observar, os cadernos principalmente nas séries iniciais são considerados muitas vezes pelos professores e alunos, como a única forma de registro e obtenção do conhecimento pragmático direcionado a esta etapa da escolarização. Com o passar dos anos escolares, vemos que os próprios alunos começam a compreender a utilização do caderno e, a cópia deixa de ser considerada o único meio de aprendizagem, passando a não dar importância a tudo que é passado na lousa, causando um certo desconforto aos professores que ficam em sua maioria, sem saber o que fazer. Dentro deste contexto vemos no PCN de língua portuguesa, uma proposta sobre a utilização do caderno de forma a contribuir para a produção da escrita dos alunos.

“As propostas de escrita mais produtivas são as que permitem aos alunos monitorarem sua própria produção, ao menos parcialmente. As escritas de listas ou quadrinhas que se sabe de cor permite, por exemplo, que a atividade seja realizada em grupo e que os alunos precisem se pôr de acordo sobre quantas e quais letras irão usar para escrever. Cabe ao professor que dirige a atividade escolher o texto a ser escrito e definir os parceiros em função do que sabe acerca do conhecimento que cada aluno tem sobre a escrita, bem como, orientar a busca de fontes de consulta, colocar questões que apóiem a análise e oferecer informação específica sempre que necessário.” (PCN - Língua Portuguesa, p. 84)

Podemos observar que por mais que o uso do caderno seja realmente direcionado pelo professor, o conteúdo designado a ser escrito nele, precisa partir do aluno, da construção que ele faz e dos significados que o aluno atribui a atividade proposta pelo professor, onde juntamente com seus parceiros, construirá suas hipóteses e ao mesmo tempo colocará à prova aquelas que já havia construido, a partir de uma dúvida, de um questionamento feito por alguém do seu grupo que tenha uma hipótese diferente sobre o mesmo assunto, fazendo do uso do caderno, um registro significativo, dentro de sua própria construção do conhecimento acerca da escrita.
Porém o que normalmente podemos observar dentro das escolas é que o caderno é utilizado como um meio de impôr disciplina à sala, como podemos ver na colocação de Foucault, quando afirma que ao termos o poder de observar sobre o aluno, constituimos um conhecimento sobre o aluno.

“O exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar; um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem visíveis aqueles sobre quem se aplicam” (FOUCAULT, 1987, p.143)

Podemos ver isto muito fácilmente dentro do universo escolar, ao observar o caderno, onde o mesmo além do que já abordamos, serve também como um mecanismo de controle dos professores sobre os alunos, também da equipe gestora e dos pais, sobre os professores, sendo muitas vezes sua utilização muito mais importante por este motivo, do que necessáriamente pelo ponto de vista da ferramenta pedagógica. Vemos constantemente professores que preocupam-se muito mais com a aparência e com a cópia, do que com o conteúdo que está nele registrado, ou ainda com o conhecimento desenvolvido pelo aluno diante daquele registro. Outra colocação de Foucault a respeito da disciplina que podemos frequentemente visualizar dentro da maioria das escolas é que:

“Na oficina, na escola, no exército funciona como repressora toda uma micropenalidade do tempo (atrasos, ausência, interrupções das tarefas), da atividade (desatenção, negligência, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria, desobediência), dos discursos (tagarelice, insolência), do corpo (atitudes “incorretas”, gestos não conformes, sujeira), da sexualidade (imodéstia, indecência). Ao mesmo tempo é utilizada, a título de punição, toda uma série de processos sutis, que vão do castigo físico leve a privações ligeiras e a pequenas humilhações. Trata-se ao mesmo tempo de tornar penalizáveis as frações mais tênues da conduta, e de dar uma função punitiva aos elementos aparentemente indiferentes do aparelho disciplinar.” (FOUCAULT, 2008, p.149)

Relembrando o modo como eram as escolas na época da ditadura, escolas rígidas, advertindo e penalizando toda e qualquer “indisciplina” que fosse apresentada, muitas vezes ainda sendo vivenciadas atualmente em escolas, não necessáriamente com punições físicas, porém com humilhações, castigos e até mesmo ameaças aos alunos.
Outro aspecto que pode ser considerado sobre a afirmação de Foulcault, é o de avalliação. Por meio do caderno, muitas vezes o professor pode visualizar algumas dificuldades, avanços e tentativas dos alunos, utilizando-se dos registros dos mesmos e também muitas vezes criar hipóteses sobre a personalidade dos alunos.
Conforme Santos(2005) afirma que os cadernos servem como um meio de comunicação entre a escola e a família, por serem materiais que não permanecem na escola, mas transitam juntamente com os alunos diariamente, transportando as informações, nos perguntamos sobre a real necessidade desta comunicação, onde normalmente somente são feitas críticas de ambos os lados, os pais questionando a abordagem da professora sobre o ensino e, a professora abordando sobre a educação familiar que está sendo passada ao aluno, não condizendo aos quais os papeis que lhes cabem.

“Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de produção de textos.” (SOARES, 2000)

Como vemos acima a alfabetização e o letramento, inseparáveis em sua teoria, por conta de como os bilhetes utilizados pelos professores e pelos pais, criam uma atmosfera negativa ao uso da linguaguem, ao invés do professor utilizar-se de diversas ferramentas, métodos e gêneros como citado acima por Soares, para trazer as crianças uma experiência significativa positiva, trazem uma experiência negativa. Ainda que desta forma podemos ver por um lado positivo no qual os documentos apontam que:

“Para os alunos não acostumados com a participação em atos de leitura, que não conhecem o calor que possui, é fundamental ver seu professor envolvido com a leitura e com o que conquista por meio dela. Ver alguém seduzido pelo que faz pode despertar o desejo de fazer também.” (PCN - Língua Portuguesa, p. 58).

Sendo assim, por mais que não seja a melhor prática do professor, mas muitas vezes o que vemos na escola, por parte dos professores, essa é a única forma real de leitura e escrita que o professor desenvolve dentro da sala de aula, exceto claro as leituras de atividades e dos livros didáticos para execução das atividades.

Após todos os apontamentos realizados Santos afirma que:

“São importantes instrumentos de registro que podem revelar sobre o aluno, a escola e as relações que se dão em torno da escolarização. Mas, cujas informações podem conduzir à formulação de hipóteses errôneas sobre aqueles que participam de sua materialização enquanto registros, especialmente quando compreendidas apartadas do contexto em que são produzidas.” (SANTOS, 2005, p.302)

Entendemos por esta afirmação que os cadernos são muito importantes para contextualizar a quem quer que os leia, a respeito da escola, do ensino e do aluno onde os mesmos estão inseridos. Porém sem a devida contextualização da sociedade, da cultura e de todo o enredo que rege a determinada sociedade, podem-se tirar conclusões que sejam total ou parcialmente erradas em relação a realidade dos fatos relatados no caderno. Pois muitas vezes podemos nos deparar com cadernos extremamente bem trabalhados, com escritas bem feitas, com um aparente bom trabalho realizado e na verdade nos depararmos com um aluno que seja somente copista e, que na verdade não sabe sequer o que está escrito no caderno, nos mostrando uma realidade oposta a que aparentava o caderno, ou talvez um caderno onde talvez não haja muitas escritas, nem que seja tão bem estruturado mas que os alunos na realidade sejam parcialmente letrados e cem por cento alfabetizados. Sendo assim, cabe ao professor escolher o critério que utilizará para adequar suas aulas, seus alunos e suas estratégias ao uso desta ferramenta, o caderno.
Referências Bibliográficas

CAGLIARI, Luiz Carlos – ALFABETIZANDO SEM O BÁ-BÉ-BI-BÓ-BU - São Paulo, Scipione, 1998.
FERREIRO, Emilia. COM TODAS AS LETRAS. São Paulo: Cortez, 1999.
FOUCAULT, Michel – VIGIAR E PUNIR: NASCIMENTO DA PRISÃO – Tradução Raquel Ramalhete, Petrópolis: Vozes, 1987, ed.32.
FOUCAULT, Michel. VIGIAR E PUNIR: NASCIMENTO DA PRISÃO. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, ed.35.
MEC. Parâmetros curriculares nacionais: LÍNGUA PORTUGUESA. Brasília, 2001.
SANTOS, Anabela A. C.; SOUZA, Marilene P. R. – CADERNOS ESCOLARES: COMO E O QUE SE REGISTRA NO CONTEXTO ESCOLAR? – São Paulo, 2005, vol.9, nº2.
SOARES, Magda Becker – LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: AS MUITAS FACETAS – Disponível em:

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Imagem no Livro Didático

    Venho por meio deste texto, responder básicamente a duas perguntas importantes no meio da educação, em análise ao livro didático, que são: Quando e porque a imagem apareceu no livro didático? Qual impacto ela causou em nosso meio? 
    Baseio-me no artigo "A Imagem e Suas Formas de Visualidade nos Livros Didáticos de Português" Celia Abicalil Belmiro e nos debates das aulas de Conhecimentos de Língua Portuguesa.

    Ao final da década de 60, começo dos anos 70, a imagem começa a aparecer na escola como um meio de modernização do livro didático á imagem dos livros de literatura a pouco inseridos dentro da escola. Com o final da ditadura militar, houve uma repaginação nos livros, com a intensão, em sua maioria, de chamar a atenção para o texto, porém como um plano de fundo, tendo destaque o texto como seu protagonista, juntamente com a indústria cultural, que através do discurso da comunicação, contaminou o discurso pedagógico e começou a fazer parte da produção dos materiais didáticos.
    Vemos o impacto significativo causado pela inserção das imagens nos PCN´s, apontando a leitura de todos os modos de leitura como sendo de grande importância e apontam a leitura da imagem como produção cultural, documento do imaginário humano, de sua historicidade e diversidade, também como o próprio artigo nos afirma, "aprender a ler imagens humaniza o homem, a alfabetização pela imagem é um meio de construir cidadania."(pág. 22). Sendo assim vemos o impacto das imagens, sobre a importância de sua leitura e com isso, o MEC vendo esta importância compõe os itens do PNLD/99, fazendo um refinamento gráfico, diminuindo a poluição visual característica dos anos 70.
   Concluímos que a prática educativa em relação à leitura da imagem faz-se significativa desde os aspectos cognitivos necessários a vida acadêmica, até a sua vivência, leitura e compreensão de mundo, utilizando-se de suas leituras, análises críticas e reflexivas das imagens.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

1ª Aula na Educação Infantil

    Bom dia, como ontem tive a oportunidade de vivenciar minha primeira aula na educação infantil decidi compartilhar um pouco de minha experiência. É uma vivência completamente diferente de uma sala de aula comum, não é fácil, porém é em partes prazeroso. As crianças são sinceras, espontâneas e só fazem o que realmente lhes chama a atenção. Atividades em que envolve a experimentação dos alunos como sempre, foi a chave para um mínimo de sucesso na aula, recortar, rasgar, colar, pintar, desenhar com materiais um pouco diferentes do que eles normalmente fazem, fez com que ao término do dia as crianças estivessem contentes. Foi um dia exaustivo físico e psicologicamente pra mim, porém serviu como experiência.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Letra é Clara, Sem Comentários!!!



DO THE EVOLUTION - PEARL JAM
Woo...
I'm ahead, I'm a man
I'm the first mammal to wear pants, yeah
I'm at peace with my lust
I can kill 'cause in God I trust, yeah
It's evolution, baby
I'm at peace, I'm the man
Buying stocks on the day of the crash
On the loose, I'm a truck
All the rolling hills, I'll flatten 'em out, yeah
It's herd behavior, uh huh
It's evolution, baby
Admire me, admire my home
Admire my son, he's my clone
Yeah, yeah, yeah, yeah
This land is mine, this land is free
I'll do what I want but irresponsibly
It's evolution, baby
I'm a thief, I'm a liar
There's my church, I sing in the choir
(hallelujah, hallelujah)
Admire me, admire my home
Admire my son, admire my clothes
'Cause we know, appetite for a nightly feast
Those ignorant Indians got nothin' on me
Nothin', why?
Because... it's evolution, baby!
I am ahead, I am advanced
I am the first mammal to make plans, yeah
I crawled the earth, but now I'm higher
2010, watch it go to fire
It's evolution, baby
It's evolution, baby
Do the evolution
Come on, come on, come on

    É só pensarmos um pouco...já faz um tempo desde que a letra foi escrita, porém se faz real e, o clip muito bem pensado e elaborado...uma obra prima que nos faz refletir sobre os assuntos abordados nele. Caso tenha dúvidas...assista de novo!!!

sábado, 3 de setembro de 2011

Educação? Governo? Professor? Família? Escola?


    Como podemos ser somente nós os culpados, ou será que é só o governo? O que vemos e na maioria das vezes não queremos ver, é que a União não assume a responsabilidade sobre a educação, nem o estado e nem o município muitas das vezes "sobrando" uma ótima oportunidade de negócios ao particular, tratando da educação como uma simples mercadoria, por assim dizer.
    Por outro lado vemos os professores, pais e aos que acompanham a educação nacional, culpar ao governo pela má remuneração, falta de suporte, falta de estrutura e falta de qualificação, quando não os pais culpando somente aos professores e comunidade escolar. O governo diz que a responsabilidade é dos professores, da comunidade escolar e da família.
    O que normalmente vemos por aí, mais uma vez é o retrado somente político disso tudo, porque quando o governo nos culpa e nós a ele, não nos damos conta de que o jogo somente continua e nada muda. Manifestos ocorrem, greves, debates e muitas outras coisas, porém algo foi mudado por causa disso? Frequentemente o que vemos em todas essas ocasiões, sejam elas levantadas pelo governo, professores, pais ou até mesmo os sindicatos, são meramente questões políticas que não vão mudar o rumo da educação do país. O que ocorre é que quando decidimos falar sobre educação, ninguém e isso até mesmo por parte dos responsáveis diretos pela educação, não assumem seus papeis reais e somente tentam achar um culpado, ao invés de realmente discutir sobre as questões pedagógicas, onde possivelmente as respostas, por mais que não sejam fórmulas prontas, seriam encontradas. Esses debates sobre a parte pedagógica acontecem, porém sua frequencia é muito menor do que os debates ou normalmente embates que se tornam sobre os aspectos políticos. Recentemente participei de um debate sobre o novo PNE, porém a grande maioria de seus participantes foram partidários, pseudo-sindicalistas e professores, nem é preciso dizer que o embate aconteceu de forma extremamente política e nada sobre a educação. O que mais provocou revolta foi a falta de instrução de quem estava a mesa no sentido de se referir como por exemplo a educação infantil como pré-escola, isto dito por um profissional da educação. Como vamos mudar a educação brasileira se ainda é acreditado que a "creche" como foi referida durante toda a noite não é uma instituição escolar? Ou então de um outro exemplo como comparar a atual educação com a educação "tecnisista" da época da ditadura e ainda afirmar que a mesma era melhor do que a de agora? São coisas deste tipo que atrasam o avanço da educação no país, de um modo geral na escola, somente estamos reproduzindo aquilo que nos foi ensinado.
    Isso que trás a revolta sobre esta questão, ninguém assume seu papel, fique nesse "vai e vem" que nunca acaba, ao invés de mostrarmos a força da educação para a liberdade, ficamos buscando culpados e nos isentando da culpa. Para finalizar me utilizo da colocação de Demeval Saviani "para se libertar da dominação, os dominados necessitam dominar aquilo que os dominantes dominam" sendo assim, não cabe só reclamarmos, mas sim, construir-nos sempre e educar de forma consciente aqueles que por nós passarem.